Senta que lá vem história

No meu último post, audaciosamente pedi aos frequentadores dessa Taverna para se levantarem. Levantar e construir algo novo, mas com os velhos ideais dentro do mundo da arte, principalmente aplaudindo os acontecimentos inovadores da música na Casinha.

(Ver o post “Levante-se, não fique fora da Casinha”, em:

https://tavernafilosofica.wordpress.com/2011/06/09/levante-se-nao-fique-fora-da-casinha/ )

Agora, peço gentilmente aos frequentadores que se sentem, pois contarei uma história que já foi construída com novos ideais (agora velhos) dentro do mundo da arte, mais precisamente sobre a história de como vivemos, dentro de uma casinha.

Mesmo pendendo para a “arte” do Urbanismo, sempre tive fascínio pela História da Arte e da Arquitetura, mas agia com certo preconceito sobre a História do Mobiliário. Com o tempo, fui convencida que todas essas “artes” estão totalmente interligadas e contam, de maneira sutil, como pensamos e vivemos.

Os móveis são mais que simples objetos integrados à decoração, eles refletem preferências e estilos, servindo como narrativas de períodos, movimentos e sociedades e pode nos contar histórias, como a hierarquia social. Embora o mobiliário não seja necessário para a existência humana em algumas culturas (especialmente as nômades), são elementos fundamentais para a compreensão da história da humanidade.

Para sintetizar essa narrativa, trago uma linha do tempo que conta, através de modelos de móveis de assento, os estilos que compõem a história do mobiliário.

Fonte: elaborado pela autora


Egito

Os tronos e cadeiras cerimoniais eram revestidos de ouro e prata, enquanto a mobília utilitária possuía poucas decorações. (Geralmente, o mobiliário egípcio era para ser guardado e não usado, pois acreditavam que usariam na vida após a morte).

TRONO DE TUTANCÁMON - XVII DINASTIA - 1300 a.C

Grécia

 As cadeiras são divididas em modelos de honra – usadas em cerimoniais ao ar livre – e de uso comum. O mobiliário grego possui proporções mais harmônicas, com assentos mais baixos e dimensões menores do que os modelos egípcios. (a cadeira klismos era voltada ao universo feminino!).

CADEIRA KLISMOS – Séc IV.

Roma

Entre os móveis de assento, o lectus era um dos mais importantes, presente na maioria das casas romanas. Suas funções eram variadas: descanso, fazer refeições e conversar (seminários) e utilizado como assento e repouso, sobretudo em cerimônias e banquetes. (As mulheres que sentavam no lectus, não eram bem vistas!).

SOFÁ LECTUS - Séc. V

Bizancio

O trono de Maximiano é uma escultura em relevo de marfim projetado para uso da igreja, mas mostra a decoração rica e elegante do mobiliário bizantino. (O uso das cores era muito presente, tanto nas construções e objetos).

TRONO DE MAXIMIANO - Séc. VI

 Idade Média

Era comum modelos dobráveis ou desmontáveis, mobílias transportadas em viagens, com múltiplas funções, como móveis de assento servindo para guardar ou armazenar utensílios. (Considerada a Idade das Trevas, a Idade Média trouxe uma “luz” para a história do mobiliário).

TRONO DE DAGOBERTO - Séc. IX

Renascimento

Os móveis deixam de ser peças isoladas e tornam-se parte do projeto da residência. A mobília de luxo, ainda é rara, prevalecendo características ainda medievais no mobiliário. (No Renascimento, a casa renascia!).

CADEIRA SAVONAROLA - Séc.XVI

Barroco

Os móveis de assento modificaram-se sob influência do comércio com o Oriente e os encostos vazados da Índia, como forma de diferenciar as peças e também economizar nos materiais empregados.  (O exagero do Barroco era visível até na falta de proporção do mobiliário!)

CADEIRA MODELO MAROT - Séc.XVII.

Império

No estilo Império nota-se a predileção por cores escuras e fortes, um mobiliário mostrando, inclusive, ornamento de caráter revolucionário e militar. (Esse estilo demonstra força e poder, até numa simples poltrona!).

POLTRONA MODELO IMPÉRIO - Séc.XVIII

Rococó

O mobiliário rococó corresponde aos padrões da etiqueta e do comportamento da corte, demonstrando a preocupação com o conforto e a privacidade. (As noções de conforto do Rococó são mais próximas às nossas e a questão de etiqueta é visível na delicadeza de uma poltrona!).

POLTRONA MODELO BERGERE - Séc.XVI

Neoclassicismo

O Neoclassicismo, o novo classicismo, buscava com as referências clássicas uma revalorização dos princípios da arte como fonte de inspiração – móveis influenciados pela arte grega, romana, renascentista e barroca. (Numa simples cadeira, podemos enxergar uma mistura de épocas e estilos!).

POLTRONA MODELO HEPPLEWHITE - Séc.XIX


Art Nouveau

Art Nouveau (Arte Nova) não pretendia revalorizar estilos passados, mas criar algo realmente novo que traduzisse o clima da época, cultural e tecnológica.  (Diferente de outros estilos, essa nova arte inova nas formas, mas não tanto nos materiais!).

CADEIRA GAILLARD - 1900

Funcionalismo

O funcionalismo é marcado por um período entre-guerras, com modificações políticas, econômicas, sociais e culturais, de forma racional, guiada por seu ideal utilitário. (Nota-se que a cadeira é projetada com o mínimo material possível, para que possa ser reproduzida em série, com custos menores!).

POLTRONA WASSILY - 1925

Art Déco

O estilo Art Déco caracteriza-se por formas geométricas e linhas retas, solidez, volumes e planos sobrepostos, associado à percepção da vida urbana, da agitação das grandes cidades, dos altos edifícios imponentes no cenário urbano. (Parece um tipo de poltrona familiar, simples de ser encontrada numa residência comum na nossa sociedade!).

POLTRONA RUHLMANN – MEADOS DE 1930.

Organicismo

Pretendia-se captar algo do espírito da natureza, como o próprio edifício se ligava ao ambiente através da harmonia das suas proporções, uso de materiais e cor. (A forma de ovo de uma cadeira pode ser considerada uma “arte manisfesto”!).

POLTRONA EGG - 1957

Deconstrutivismo

O Deconstrutivismo nega a unidade e a ordem, rompe com as formas tradicionais, questiona a estabilidade, ordem, pureza e harmonia; e revela a debilidade da tradição.(O construir do desconstruir!).

CADEIRA WIGGLE SIDE - 1972

Minimalismo

Apresenta um mínimo de elaboração formal e o máximo de utilização de materiais industrializados, repetição de elementos, utilização de padrões matemáticos e geométricos. (Quanto menos, melhor!).

CADEIRA DUDD #72 - 1979

Ultratecnicismo

A solução dos problemas espaciais deveria acontecer através de materiais e  métodos construtivos  altamente  industrializados,  priorizando a perfeição técnica, o pragmatismo, o universalismo, o abstracionismo e a ênfase na analogia mecânica. (A tecnologia invade o mobiliário!).

POLTRONA WELL TEMPERED - 1986

Pós – Modernismo

O Pós-Modernismo não pretende substituir o modernismo, mas defende uma revisão de seus pressupostos, liberando a relação forma e função e revalorizando da História. (Um questionamento sobre a racionalidade!).

CADEIRA LOUIS GHOST - 2002

É importante lembrar que essa divisão do tempo por estilos é uma maneira didática para explicar os acontecimentos durante a história, no entanto, é impossível saber quando realmente começou e terminou uma determinada maneira de viver.

Então, taverneiros, peguem uma cadeira e sentem-se, ouçam novas e velhas histórias e contem-nos!

Sobre tatitalima

Tatita Lima contribuiu com álcool e filosofia para esta Taverna no período de 06/04/2011 à 20/01/2012, mas nunca deixará a essência de taverneira porque toda a sua filosofia de bêbada continuará registrada em seus textos. A Tatita Lima continua na rede: twitter: @tatitalima facebook: facebook.com/tatitalima Ver todos os artigos de tatitalima

4 respostas para “Senta que lá vem história

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